terça-feira, 12 de abril de 2011

Língua Gestual: língua que veio para ficar

Língua Gestual: língua que veio para ficar

 

© (AP photo/Al Behrman)

Em Janeiro do ano passado, abriu, na Universidade Católica Portuguesa (UCP), a primeira licenciatura em Língua Gestual Portuguesa (LGP), com 24 alunos. Este curso é frequentado apenas por surdos, e faz parte do Instituto de Ciências da Saúde (ICS) da Universidade.
Mais de um ano depois, o curso já conta com um total de 46 alunos, o que levou à abertura de uma segunda turma em Outubro. “O curso tem corrido muito bem, temos alunos muito empenhados e que têm progredido muito”, afirma Ana Mineiro, coordenadora desta licenciatura.
O curso, composto por 26 unidades curriculares, corresponde a um primeiro ciclo de Bolonha. No entanto, para se profissionalizarem, os licenciados terão de frequentar o mestrado. A abertura deste mestrado está em estudo, segundo a coordenadora.
Esta licenciatura é uma mistura de aulas presenciais e ensino à distância, através de uma plataforma e-learning e conferências online. Ema Gonçalves é uma das alunas que frequenta o primeiro ano do curso. Para esta estudante açoriana, as aulas realizadas à distância são fundamentais, pois apenas vem a Lisboa de 15 em 15 dias, ou uma vez por mês. “Já antes trabalhava como formadora de LGP, mas sempre quis obter o nível académico que me permitisse ser professora.”
Com Carolina Canais o caso é muito mais complexo, visto que esta aluna sofre de surdez profunda e cegueira quase total. Para ajudar Carolina, a primeira aluna surda-cega  a realizar o curso, foi necessário contratar dois tradutores-intérpretes especializados na transmissão pelo toque, através de Braille.
O curso de LGP fez surgir todo um novo léxico gestual. Neste contexto, o ICS está a criar dois dicionários técnicos, em vídeo, que serão colocados online para estarem disponíveis para toda a população surda. “Tem sido um parto doloroso. Apenas a vontade dos alunos e o seu empenho tem contribuído para levar avante este megaprojecto que é importante para eles”, afirma Ana Mineiro.
Em Portugal, existem cerca de 150 mil surdos e nem sequer 1% chega ao Ensino Superior. “Há um défice de literacia em Portugal. Os surdos que chegam ao 9º ano não sabem ler, não sabem escrever e não sabem a língua gestual”, elucida-nos Orquídea Coelho, investigadora da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP).
Esta licenciatura é então uma conquista e um grande passo para a integração dos deficientes auditivos. Por ser único no país, o curso recebe alunos dos Açores e Madeira e de vários pontos do continente como, por exemplo, Algarve, Porto e Santarém

 

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