quinta-feira, 21 de abril de 2011

E agora um banho ás claras

E agora um banho ás claras



Folheando um dicionário de adjectivos, difícil é encontrar a palavra ou as palavras certas para qualificar a exibição do FC Porto e a capacidade evidenciada para, com três golos em 20 minutos na segunda parte do clássico, dar a volta a uma eliminatória da Taça de Portugal que há mais de dois meses chegou a ser dada como perdida. E não era caso para menos, porque a desvantagem de dois golos encaixada no Dragão poderia ser vista ou encarada como uma barreira intransponível. Há uns tempos, talvez fosse assim, talvez fosse impossível vergar o Benfica que cedeu as faixas; mas ontem não, e a dada altura até pareceu ser demasiado fácil atropelá-lo: o novo campeão, com um desempenho tão brilhante quanto perfeito, resistiu com serenidade a duas ameaças de golo - por Javi García e Cardozo - e depois foi rasgando caminhos por todos os lados para chegar ao ouro, especialmente a partir do momento em que fez disparar a escalada exibicional que o havia de apurar para a final do Jamor. E o sinal mais forte do começo dessa escalda, demonstrativo de um FC Porto que foi crescendo com o passar do tempo e transformando a expectativa em ambição, deu-se ao minuto 41, quando Hulk tirou partido de um erro de Jardel e acelerou na direita, servindo de bandeja para a finalização de Falcao, que à primeira perdeu para Júlio César e à segunda rematou por cima da barra. O resultado estava ainda encravado, mas naquele instante percebeu-se que, com ou sem duche de aspersores, o conjunto de Villas-Boas ia puxar do sabonete para dar um banho (de bola) ao Benfica. E às claras.
Confiante e solto, o FC Porto regressou dos balneários cheio de saúde mental e com a disposição de ir para cima do anfitrião, que mantinha a estrutura inicial do 4x4x2: Jara na direita do meio-campo, Carlos Martins ao meio - perto de Javi García - e César Peixoto oscilando à esquerda entre a zona interior e a linha, preocupando-se em gerar equilíbrios nas transições e aproximando-se de Coentrão para reduzir espaços de penetração a Hulk. O campeão também não mexia nas peças, mas transparecia vontade de lhes dar outra amplitude e dimensão no terreno de jogo. A pouco e pouco, os portistas foram-se estendendo e colocando mais gente nas acções ofensivas e nas combinações à entrada da grande área benfiquista. Hulk não rebentava, nem mesmo na cobrança de livres directos revelava a pontaria de outras noites, mas... impunha respeito. Sim, a defesa encarnada sabia que não podia nem sequer passar pelas brasas. Nesta fase, o FC Porto desenvolvia uma estratégia de risco progressivo que o punha mais perto dos golos... e o Benfica dava prioridade à contenção, encolhendo-se no meio campo defensivo para tapar os buracos que o futebol de tricô dos homens de Villas-Boas ia criando.

Dedo táctico de Villas-Boas


Do banco de suplentes saltou James, aos 62', rendendo Rúben Micael. Do ponto de vista táctico, o FC Porto dava mais um passo para desequilibrar as forças. James acompanhava Moutinho e abria no flanco direito ou alongava os movimentos pelo meio, enquanto Hulk se chegava a Falcao no eixo do ataque e Rodríguez prosseguia a actuação incisiva e plena de garra pela ala canhota. E dois minutos depois... Moutinho - que máquina! - recebeu de Rodríguez à entrada da área e, com um remate seco de pé direito, enfiou a bola na baliza, num lance de transição rápida que teve início num corte raçudo de Fernando no seu meio campo. Se estava amedrontado, o Benfica tremeu e... temeu o pior. Havia razões de sobejo para isso. A frescura e a qualidade do jogo colectivo dos campeões impressionavam, metiam medo. E a carga dramática acentuou-se aos 72': Hulk, saído da sombra e... protagonista de um fora-de-jogo de centímetros, ocorreu a um cruzamento rasteiro de Álvaro Pereira para empatar a eliminatória.
Desmoralizado, o Benfica quase nem teve hipóteses de se recompor do rombo, porque Falcao, aos 74', fechou um lance individual com um remate que beneficiou de um desvio nas pernas de Javi García para ser um golo abençoado. Rodríguez, o homem do passe para El Tigre, ainda festejou em campo, para a seguir ser substituído por Varela. O FC Porto estava na final... mas ainda não tinha acabado. Num assomo de dignidade e fúria, o conjunto encarnado, já a funcionar com Aimar na vez de Jara, tentou pelo menos meter a bola na grande área de Beto. E aos 80', num penálti conseguido por linhas tortas - Sapunaru não cometeu falta sobre Saviola -, reduziu a diferença. Renascia a emoção, mas nem por isso a incerteza. Sapunaru saiu nos azuis e brancos, e Kardec e Weldon entraram na equipa da casa, fazendo com que o Benfica se despedisse da partida de forma quase anárquica, com quatro a defender e seis a atacar em bloco. Ao desespero de quem capitulava, a equipa do FC Porto reagiu com a autoridade e competência que a têm caracterizado.

In OJogo

Sem comentários: