terça-feira, 20 de setembro de 2011

UM PORTUGUÊS NO NÚMERO 61 DO ATP MUNDIAL!!!! (Recorde até à data)

Rui Machado em 61.º do ranking mundial
melhor registo de sempre para um português


Rui Machado alcançou a 61.ª posição no ranking ATP, tornando-se o tenista português mais bem posicionado de todos os tempos. A vitória no torneio polaco de Szczecin, assegurada apenas na manhã de segunda-feira depois de o embate com o francês Eric Prodon ter sido interrompido no domingo, fez com que o algarvio desse um salto tremendo de 19 lugares.
De manhã, quando ainda estava em causa o resultado da final, Machado só tinha assegurado uma subida de 10 lugares na tabela. Contudo, poucas horas depois do sucesso em três sets (2-6, 7-5 e 6-2), confirmou-se a maior progressão e o consequente recorde no ténis nacional.
Frederico Gil, segundo melhor português, agora no 100.º posto (subiu 6 posições em comparação com a última semana), detinha - até à data - o registo mais importante de um tenista luso. A 25 de abril deste ano, o lisboeta figurou no posto 62.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Mou é GRATO!! LEIAM... Sabe quem o ensinou! (Bem algumas coisas...!)

Mourinho doou Bola de Ouro à fundação Bobby Robson
Leilão de solidariedade


José Mourinho, treinador do Real Madrid, doou a Bola de Ouro que ganhou em 2010 como melhor técnico do ano para um leilão de solidariedade em memória daquele que foi o seu maior mentor, Bobby Robson.
O troféu doado pelo treinador português foi um dos mais importantes que já conquistou na sua carreira, após uma época em cheio no Inter Milão, em 2010.
O leilão irá ser realizado online, entre os dias 8 e 23 de outubro, estando também agendada uma gala, para dia 20 do mesmo mês, que se realizará em St. Edmunds, Suffolk (Inglaterra). O dinheiro que for arrecadado será destinado à fundação Bobby Robson e a um grupo de beneficência para o estudo do cancro da mama.
Entre os vários donativos de diversas celebridades do mundo do futebol, podemos encontrar um passe para assistir a um treino da seleção inglesa de futebol, bilhetes para assistir a jogos do Manchester United (Cortesia de Sir Alex Ferguson) e uma autobiografia assinada por Pelé.
"Toda a minha família está impressionada com o presente de José Mourinho, estamos muito agradecidos. O meu pai iria sentir-se muito orgulhoso pela maneira como todas as pessoas do mundo do futebol estão a contribuir com prémios tão fantásticos", disse esta segunda-feira Mark, Filho de Bobby Robson.
Bobby Robson, foi um dos maiores treinadores da história do futebol e morreu no dia 31 de julho de 2009, aos 76 anos, devido a um cancro.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Ah Grande Russo (e ainda levou milhares de chapadas, e eu que fiz algo parecido com isto em Bruxelas na passagem de Ano de 1991 para 1992, com muitas testemunhas, uma delas conhecida mundialmente!!)

Política

Russo apalpa seios a mil mulheres

14-09-2011

O russo Nickel Sam encontrou uma forma diferente e ousada de apoiar a candidatura de Vladimir Putin à presidência da Rússia. O jovem de 27 anos apalpou os seios de mil mulheres, com o objectivo de transmitir depois essa energia a Putin. Para o efeito, gravou um vídeo onde se vê a convidar voluntárias a deixarem-se tocar.

Segundo o autor do vídeo, um dos mais vistos na Internet, "Putin está sempre ocupado com assuntos importantes de Estado. É casado e não tem tempo para brincadeiras. Mas também é um homem e não pode dar-se ao luxo de tocar nos seus potenciais eleitores. Mas Sam Nickel pode fazê-lo, tem muito tempo livre. Sam decidiu apalpar as eleitoras e, em seguida, cumprimentar Putin com a mesma mão".

Enquanto sete mil mulheres se recusaram a ser apalpadas e chegaram a premiar com uma bofetada o autor da graça, outras mil aceitaram com um sorriso.

Link e VIDEO!!!:

http://www.sabado.pt//Multimedia/Videos/Politica/Russo-apalpa-seios-a-mil-mulheres.aspx

É só copiar e colar no browser que bem entender ou tiver pre defenido!

GR suplente do MU

Lindegaard : «Não vim para ficar a limpar o nariz»

Titular na Luz quer lugar de De Gea

Por Redacção2011-09-15 13:49h

 
Depois da excelente exibição rubricada na Luz, Anders Lindegaard acredita que pode roubar o lugar de titular a David de Gea na baliza do Manchester United.

«Já disse mil vezes antes, não vim para ficar a limpar o meu nariz. Embora venha de uma pequena equipa na Noruega que se chama Aalesunds, estou aqui porque quero jogar, não vim para ficar sentado no banco», explicou, citado no site do clube.

O guarda-redes dinamarquês foi titular surpresa na Luz, e ficou «satisfeito» com a exibição. «Tive muito prazer e foi uma grande noite. A Luz é um grande estádio para jogar, com um ambiente muito ruidoso. É por isso que vim para o United. Para jogar este tipo de jogos», afirmou.

Jorge Nuno Pinto da Costa (esta entrevista fica mesmo para a história do futebol mundial!)

Pinto da Costa em entrevista à revista "O Tripeiro"

by +FCPorto on Thursday, September 15, 2011 at 10:45am
  • "Investidores só entrarão no clube se for nossa vontade"
  • Pinto da Costa concedeu uma longa entrevista à edição deste mês da revista "O Tripeiro" em que faz um balanço dos quase 30 anos na presidência, recordou o passado e perspectiva um futuro risonho, garantindo que o FC Porto nunca deixará de pertencer aos sócios, apesar da tendência mundial para a compra de clubes por parte de grupos de investidores. O Beira-Mar é o exemplo mais próximo, mas Pinto da Costa, que revelou estar noivo de Fernanda Miranda, não quer que seja esse o caminho dos dragões, embora admita que as parcerias económicas são determinantes. Sem nunca dizer que está a cumprir o último mandato, mostrou-se tranquilo quanto à sua sucessão: não apontou nomes, mas garantiu que há pessoas capazes de fazer melhor do que ele.
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  • "Os investidores só entrarão no FC Porto se for nossa vontade. O clube tem 40 por cento das acções e é difícil a quem quer que seja conseguir 51 por cento. Portanto, só com um entendimento é que isso é possível. Além do mais, os estatutos da SAD conferem ao clube o direito de escolher o presidente. Acho que o FC Porto nunca poderá ter um dono, tem de ser dos sócios e eles é que têm de ser os donos", frisou, sem, contudo, fechar a porta ao dinheiro externo. "Outra coisa é fazer parcerias e temos de caminhar nesse sentido", referiu. Aliás, esta época o FC Porto aproveitou o investimento estrangeiro para adquirir os passes de Alex Sandro e Danilo e convém recordar o acordo celebrado com o banco brasileiro BMG para a construção do museu do clube.
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  • Há muito que o tema da sucessão domina as entrevistas de fundo de Pinto da Costa e esta não fugiu ao assunto. O presidente portista admite que não está muito preocupado. "Penso nisso, mas com confiança. Porque não tenho dúvidas de que no FC Porto há pessoas com grande capacidade para poderem continuar este caminho e fazerem melhor. Mas entendo que não devo ser eu a patrocinar qualquer candidatura, nem a envolver-me em qualquer campanha eleitoral. Existem várias pessoas que eu veria com enorme tranquilidade a assumir a presidência do FC Porto. Não tenho a mínima dúvida de que hoje a massa associativa sabe aquilo de que o clube precisa, sabe as pessoas que são capazes. No momento de escolherem, vão escolher bem", sublinhou.
  • "Teles Roxo ia ser o meu sucessor"
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  • Convidado a identificar alguns nomes desta longa caminhada de mais de 29 anos, Pinto da Costa elegeu "pessoas que já cá não estão". Começou por Pedroto - "foi com ele que se traçou toda a estratégia inicial" -, continuou com o comendador Gonçalves Gomes - "uma pessoa fantástica" -, e terminou em Pôncio Monteiro e Teles Roxo. Este último estava escolhido para ser presidente do clube no início dos anos 90. "Até combinámos reuniões periódicas para ele ir ficando por dentro dos assuntos. Ia ser uma sucessão quase natural porque ele foi um elemento muito importante na vitória de 1987. Depois, recebo a notícia de que ele tinha morrido daquela forma estúpida. [acidente de viação no dia de Natal de 1991]
  • Quatro Troféus
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  • "Quando o FC Porto foi campeão após 19 anos de jejum. Tem um significado especial, embora não conste dos 54 porque ainda não era presidente. Era director para o futebol. Como presidente há três especiais: o de Viena, o primeiro tri e o penta, que ninguém conseguiu ganhar, nem o Benfica de Eusébio, nem o Sporting dos cinco violinos"
  • Fonte: Revista "O Tripeiro"

domingo, 11 de setembro de 2011

Este será meu cumprimento

acabaram meus cigarros
dinheiro tenho pouco
nem uma pessoa influente de poder conheço
não levarei ninguém a qualquer promoção
portanto, não leia este verso
este poema como um meio,
por ele – que sou eu –
não chegará a nenhum futuro brilhante
nem a ocupar um cargo de bom salário
ou daqueles de excelentes aparências.
não tenho nem como trocar favores
não tenho nada que lhe possa interessar
se for por isso nem mesmo um minuto
vale perder comigo.
não precisa de discrição,
afasta-se rápido
finja em qualquer lugar que passo despercebido.
muitos conhecidos pensam em me querer
- no mínimo do que tenho.
mas não tenho nada, nem o mínimo
nem mesmo um verso rimado
não tenho o que oferecer
pode pensar que me ver
é avistar um rosto de dia de semana
um rosto de olhar cansado o trajeto de uma terça-feira
sim, sou um dia de semana arrastado
sem uma ninharia.
melhor, então, é me deixar jogado num canto
prometo que a partir de hoje
logo que alguém falar comigo
antes de todas as coisas falarei assim direto
não tenho nada – será meu cumprimento
Jefferson Bessa

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Amália




AMÁLIA RODRIGUES
Cantora: 1920 – 1999
Amália Rodrigues (retrato), 1954
PORQUE O FADO NÃO SE CANTA, ACONTECE...
QUANDO TUDO ACONTECEU...
1920: Nasce em Lisboa no Bairro de Alcântara a 1 de Julho (data escolhida por Amália porque nos registos consta o dia 23). - 1929: Entra na Escola Oficial da Tapada da Ajuda, onde terminará a instrução primária. - 1934: Trabalha como bordadeira, engomadeira e tarefeira. - 1935: Desfila na Marcha de Alcântara e canta pela primeira vez, acompanhada à guitarra, numa festa de beneficência. - 1938: Representando o Bairro de Alcântara participa no Concurso da Primavera. - 1939: Estreia-se como fadista no Retiro da Severa. - 1944: A estada no Brasil, prevista para seis semanas, estende-se por três meses. Actua no Casino de Copacabana. - 1945: No Brasil grava os primeiros dos 170 discos (em 78 rotações)  da sua carreira. - 1947: É protagonista no filme «Capas Negras», batendo todos os recordes de exibição ( 22 semanas em cartaz no Cinema Condes). - 1948: Recebe o prémio do SNI (Secretariado Nacional de Informação) para a melhor actriz, pelo seu papel em «Fado», filme de Perdigão Queiroga. - 1949: Actua pela primeira vez em Paris e Londres. - 1951: Digressão a África: Moçambique, Angola e Congo. - 1952: Actua pela primeira vez em Nova Iorque no La Vie en Rose, ficando 4 meses em cartaz. Assina contrato com a editora discográfica Valentim de Carvalho, que passa a gravar todos os seus discos. - 1953: É a primeira artista portuguesa a cantar na televisão americana no programa «Eddie Fisher Show». - 1954: Edita o primeiro LP nos Estados Unidos. Actua no Mocambo, em Hollywood. - 1955: Interpreta a «Canção do Mar» e o «Barco Negro» no filme de Henri Verneuil «Os Amantes do Tejo». Filma no México «Música de Sempre» com Edith Piaf. - 1957: Estreia-se no Olympia em Paris e começa a cantar em francês. Charles Aznavour escreve para ela «Ai, Mourrir pour Toi». - 1961: Casa no Rio de Janeiro com o engenheiro César Seabra com quem vive até à morte deste em 1997. - 1962: Lança o disco «Asas Fechadas» e «Povo que Lavas no Rio» do poeta Pedro Homem de Mello. - 1966: Actua no Lincoln Center (Nova Iorque) com uma orquestra sinfónica dirigida pelo maestro André Kostelanetz. - 1967: Recebe em Cannes, pela mãos do actor Anthony Quinn, o prémio MIDEM (Disco de Ouro) para o artista que mais discos vende no seu país, facto que se repete nos dois anos seguintes, proeza só igualada pelos Beatles. - 1970: Actua em Tóquio, Nova Iorque e Roma e recebe uma alta condecoração francesa. - 1975: Regressa ao Olympia em Paris. - 1976: É editado pela UNESCO o disco «Le Cadeau de la Vie» em que figura ao lado de Maria Callas e de Jonhn Lennon. - 1977: Canta no Carnegie Hall de Nova Iorque. - 1985: Volta a cantar no Olympia de Paris. Dá o primeiro concerto a solo no Coliseu dos Recreios de Lisboa. - 1989: Comemora os 50 anos de carreira com uma exposição no Museu do Teatro em Lisboa. - 1990: Dois grande espectáculos: Coliseu dos Recreios e no S. Carlos onde, pela primeira vez em 200 anos, se ouve cantar o fado. - 1994: Actua pela última vez em público no âmbito de Lisboa, Capital da Cultura. - 1995: É operada a um tumor no pulmão. Edita o seu último disco «Pela Primeira Vez». - 1998: É lançado o disco O melhor de Amália, muito aclamado pela crítica internacional. É homenageada na Expo 98. - 1999: A 6 de Outubro morre em Lisboa, na sua casa na Rua de S. Bento.

PORTUGAL: RURAL, POBRE E ATRASADO


 
No princípio do século XX Portugal tem cinco milhões de habitantes. É um país essencialmente rural, pobre e atrasado. Quarenta mil portugueses emigram por ano. A taxa de analfabetismo ronda os 70%. A 5 de Outubro de 1910 Portugal torna-se numa das primeiras repúblicas da Europa. O novo regime mobiliza o país e apaixona a opinião pública. Escolas e educação, prioridade. A legislação consagra os novos direitos de liberdade e cidadania. A prática do exercício desses direitos engendra grandes contradições. Comportamentos restritivos e repressivos da parte  do Partido Republicano no poder.
Portugal participa na I Guerra Mundial (1914 -1918). Agravamento das tensões dentro da sociedade portuguesa estão na origem da Ditadura de Sidónio Pais. Em 1917 Portugal sofre o desastre da batalha de La Lys, em França. Agudizam-se as tensões entre a sociedade urbana, em vias de industrialização e o mundo rural tradicional e arcaico. Em Fátima, três miúdos afirmam ter visto Nossa Senhora em cima de uma oliveira. Em Lisboa, na Estação do Rossio, Sidónio Pais é assassinado a 14 de Dezembro de 1918. Bento Gonçalves, dirigente anarco-sindicalista, visita a Rússia durante a revolução bolchevista. Em 1921 fundará do Partido Comunista
Em 1920 a Igreja recusa a imagem de Nossa Senhora de Fátima do escultor Teixeira Lopes pela sua sensualidade. Nas faldas da Serra da Gardunha, um tocador de cornetim é cobiçado pelas duas bandas do Fundão: «música nova» e «música velha». A vida de músico é insegura, ele tem que assegurar o sustento dos quatro filhos e da mulher novamente grávida. É sapateiro, mas por causa do cornetim, poucos sapatos  fizera. Sai dos confins da Beira Interior e resolve tentar a sorte na capital. É o tempo das cerejas (Maio e Junho) e em Lisboa, na Rua Martim Vaz, a mulher dá à luz uma criança do sexo feminino: Amália da Piedade Rodrigues.  A vida está má e o sapateiro-músico não arranja trabalho. Voltam todos para o Fundão mais pobres do que nunca. Excepto Amália que, com 14 meses, fica em Lisboa com os avós.


«CANTA ESSA, CANTA ESSA QUE JÁ PARARAM SEIS...»



Amália Rodrigues com o irmão Vicente e a cunhada Filipina, 1986





















 
Amália é a quinta  filha de uma prole de nove irmãos. Vicente e Filipe, os mais velhos. A mortalidade infantil é grande e a pneumónica alastra: José e António, ainda meninos, morrem. Depois de Amália nasceram mais quatro meninas: Celeste, mais nova dois anos; Aninhas que morre aos dezasseis anos;  Maria da Glória que logo morre e por fim, Maria Odete.
3 de Dezembro de 1923. Em Manhattan, bairro de Nova Iorque, nasce Maria Callas, filha de emigrantes gregos. Amália não tem brinquedos, mas sabe duas ou três cantigas. Os vizinhos pedem-lhe que cante e enchem-lhe as algibeiras do bibe com rebuçados e moedas.  Duas meninas que irão pôr em causa o que há muito está estabelecido. Duas vozes singulares, dois marcos entre o «antes» e o «depois»: uma sê-lo-á na interpretação da Ópera; outra na interpretação do Fado. Enfim, duas renovadoras.
Golpe militar de 28 de Maio de 1926. A República parlamentar, derrubada. O novo regime começa por limitar a liberdade de expressão e associação – a censura! Ilegalização progressiva de partidos e sindicatos. Ascensão de Salazar - de ministro das Finanças a Presidente do Conselho. Amália é uma rapariguita tímida. A única pessoa que consegue que ela cante é o avô. Amália dentro de casa, sem ser vista, canta tangos de Carlos Gardel e muitas outras coisas. Sentado à janela o avô conta as pessoas  que param para a ouvir: «Canta essa, canta essa que já pararam seis».
Amália tem quase nove anos e a avó, analfabeta, manda-a para a escola da Câmara,  na Tapada da Ajuda. No caminho come figos de piteira e rouba florinhas para levar à professora. Gosta tanto da escola que nada a impede de ir, nem mesmo a sua bronquite asmática. Em casa é que não quer ficar! Adora a escola onde o tempo é dela e da sua fantasia. Ali ninguém a manda limpar o pó, nem lavar a loiça ou esfregar o chão. 
Aprende as lições de ouvido e chamam-lhe «sabichona». Mas uma coisa não lhe entra na cabeça: Geografia! A professora insiste para que ela compre o livro – o seu primeiro livro. Quando mais tarde é obrigada a comprar outro, a avó perguntar-lhe á: «Aquele ainda está novo, para que queres outro?».
Na escola da Câmara é obrigatória a bata branca por cima do vestido. Lá vai Amália a caminho da escola e, por entre o arvoredo, o cântico dos pássaros dilata o espaço. Encontra uma rapariga toda rota, ainda mais pobre do que ela. Tira o vestido que traz por baixo da bata e dá-lho. Quando chega a casa, a avó diz-lhe para tirar a bata para lavar. Finge um ar admirado e atrapalhada diz: «Ai! Perdi o vestido!». «Olha a fidalga, a dar vestidos!» exclama a avó entre  tabefes.
Faz o exame de instrução primária e, como todas as meninas, leva o seu vestido novo que lhe fica muito bem. É de crepe-da-china azul turquesa às pregas, feito pela primeira vez numa modista. Depois do exame nunca mais o há-de vestir porque ficará a aguardar uma outra ocasião importante… Entretanto cresce. Tem doze anos e para ela a escola acabou!
Como é hábito da gente pobre, grandes e pequenos contribuem para o sustento da casa. Aprender um ofício, impõe-se. Ofício de bordadeira, escolhe. Ganha dois escudos por dia. O dinheiro não chega para o bilhete do eléctrico. De manhã cedo galga ruas e ruelas a pé, da Ajuda às Escadinhas do Duque, perto do Chiado. Dias e meses a passar a ferro... Bordar? Nicles! Como nada aprende, a avó não quer que ela continue. Uma tia é encarregada numa fábrica de bolos e rebuçados, na Pampulha. Embrulham-se rebuçados, descascam-se marmelos e outras frutas. É preciso gente. Amália  ganha agora seis escudos por dia e quanto mais descascar e embrulhar, mais ganha.

«NUNCA NOS REVOLTÁMOS COM A VIDA»

 
Amália, menina trabalhadeira num bairro popular de Lisboa... Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.
 











Amália Rodrigues com a irmã Celeste, Madrid, 1943
 
Tem 14 anos feitos. Resolve ir viver com os pais e irmãos que regressaram a Lisboa. Em casa da avó as coisas eram organizadas. Passa a viver numa confusão maior. Casa pequena para tanta gente, um casal e os seus cinco filhos. É preciso disciplina.  Como é costume das gentes da Beira Baixa, as hierarquias são para se respeitar. O irmão mais velho é que quem manda, é quem bate. Bastantes bofetadas apanha por cantar na rua - ela que tanto gosta de cantar. As raparigas nada podem fazer sem a sua autorização. Amália ,como filha mais velha, tem que ajudar a mãe na lida da casa. Passa as calças e as camisas dos irmãos, tira nódoas dos fatos domingueiros. Todos os dias leva o almoço aos irmãos à tasca o “77” em Alcântara, onde eles só consomem vinho para poderem usar as mesas.
A avó, uma mulher áspera que dera à luz 16 filhos, tem agora vários netos. Junta a família toda  aos Domingos. Cada um leva qualquer coisa para o almoço e jantar. Bem dispostos, os mais velhos cantam coisas da terra, cantigas da Beira Baixa. Os mais novos o fado.
O fado tem pouco mais de um século. É uma manifestação urbana dos bairros  populares e operários de Lisboa. Com o advento da Rádio e do disco, as vozes das fadistas Ercília Costa, Ermelinda Vitória, entre outros, chegam directamente a um público mais vasto.
No Cais da Rocha a mãe monta uma pequena banca de fruta. Amália deixa a fábrica da Pampulha para ajudar a mãe. No meio do burburinho geral, do colorido das frutas e das hortaliças, ecoam os pregões - pequenas melodias ancestrais -  memorial rural das gentes da Beira Baixa, Trás-os-Montes, Minho.
Tão pobres são que o seu grau de pobreza é para eles coisa natural. Ninguém se lamenta. É o fado da gente pobre. Se está frio, à braseira ficam. Se chove em casa, alguidares, tachos e panelas no chão espalhados, apanham a chuva. Se estão a dormir e a água cai, um último recurso é fugir para o lado, «e dentro do cobertor saltava ainda uma pulga!» - escreve nas suas memórias a própria Amália: «Mas nunca nos revoltámos com a vida. Com certeza, que havia pessoas diferentes de nós, senão não havia revoluções. Mas nuca ouvi sequer falar dessas coisas. Os privilegiados é que falam dessas coisas, não são os pobres. E no fundo entre os pobres também há diferenças de classe. Éramos gente à margem».
Aos sábados descobre o cinema nas reprises do Alcântara, que apresenta filmes muito depois de terem sido estreados nas principais salas de Lisboa. Vê a Dama das Camélias com a Greta Garbo (Camile 1937). Bebe vinagre e põe-se nas correntes de ar, para ficar tuberculosa como a sua heroína. Ser artista é o seu grande desejo. Tem dezasseis anos e a sua inseparável irmã Celeste catorze. Resolvem fugir num barco, clandestinas, mas vestidas de homens, para ninguém se meter com elas. Vestem os fatos dos irmãos. São seis da manhã…passado meia hora já estão novamente em casa.
Em 1938 representa o Bairro de Alcântara, onde vive, no Concurso da Primavera em que se disputa o título de Rainha do Fado. Canta aqui e ali, cantigas tradicionais e danças rurais, do vira ao malhão, bem como as marchas populares nas festas dos santos populares de Lisboa, organizadas pelas colectividades de Cultura e Recreio com cujo espírito se identificará sempre. Conhece o guitarrista e torneiro mecânico Francisco Cruz por quem se apaixona. Tenta o suicídio por desgosto de amor.

«PORQUE O FADO NÃO SE CANTA, ACONTECE»

Amália Rodrigues no Café Luso, 1942



























 
Guernica é bombardeada. Península Ibérica, ditadura. Em Portugal, Salazar continua. Em Espanha, Franco começa. Hitler, a Polónia invade. O Estado Novo cria a carteira profissional de fadista, sem a qual os fadistas não se podem apresentar em público. O fado salta das ruas e vielas de Lisboa, dos retiros e casas de pasto tradicional para as chamadas «casas de fado» como o Solar da Alegria, o Retiro da Severa, o Luso destinado a um público sofisticado e burguês, com poder de compra.
É precisamente numa desta casas, o Retiro da Severa, que em 1939 Amália faz a sua estreia profissional. No ano seguinte actua no Solar da Alegria, como artista exclusiva com repertório próprio. Estreia-se no Teatro Maria Vitória, na revista «Ora vai tu» personificando a fadista vestida com xaile negro. Casa-se com Francisco Cruz, o torneiro mecânico e guitarrista amador.
A jovem Amália impressiona todos. Canta com intensidade dramática o fado porque «o que interessa é sentir o fado. Porque o fado não se canta, acontece. O fado sente-se, não se compreende, nem se explica». 
Durante os anos de guerra uma parte da burguesia lisboeta vive os anos loucos. Os intelectuais, indignam-se. Democratas tomam partido dos que na Europa combatem a besta nazi. Salazar, vacilante. Espiões de ambos os lados - aliados e nazis – disputam as noites lisboetas, nos cabarés e nas casas de Fado.
Divorciada a seu pedido, Amália tem 23 anos. É  independente, jovem e divertida. Ganha bem e sente-se bem em Lisboa. A vida é uma festa. Restaurantes, boites, espanholas e refugiados, cruzam-se. Quando canta ao público agrada. Canta tudo o que está na berra. Dança tudo o que está na moda: passodobles, tangos, sambas, valsas.  Todos lhe fazem a corte. Leva o público das casas de fado atrás dela, de um lado para o outro, do Negresco para o Tokai, para o Nina.
Em 1943 estreia-se com grande sucesso no estrangeiro em Madrid, a convite do embaixador português. Começa o seu sucesso internacional. Em 1944 está no Brasil. Delírio! A sua estada, prevista para seis semanas, estende-se por três meses e grava, em 78 rotações, os seus primeiros discos.
Em 1945 o nazismo, derrotado. A oposição ao ditador Salazar, transgride. Reuniões, manifestos, abaixo-assinados. Surge o Movimento de Unidade Democrática. Lopes-Graça e os poetas Carlos de Oliveira, José Gomes Ferreira, João José Cochofel (entre outros) fazem as «Heróicas» para serem cantadas nas ruas de Lisboa. A grande ilusão…
Em 1949 António Ferro é uma espécie de ministro de Salazar para a cultura. Tem o apoio artístico do sector modernista nacionalista, entre os quais se destaca Almada Negreiros. Amália já fizera grande sucesso no Brasil e em Madrid. Os seus discos são vendidos em 16 países. Pela primeira vez vai a Londres e a Paris a convite de António Ferro, que considera Amália uma grande artista e mulher inteligente. Sempre que é necessário abrilhantar as recepções governamentais pede-lhe que esteja presente para cantar e encantar: «Achava que eu era  melhor toalha que tinham em casa mas nunca me ajudou a ser a Amália Rodrigues». Nunca ninguém do governo a elogiou. A  única pessoa que sempre a tratou com respeito foi realmente o António Ferro. Salazar sempre que a ela se referia, chamava-lhe a criaturinha .
 «Sociedade repressiva, mesquinha e tacanha!» clamam os da Oposição. As tertúlias nos cafés de Lisboa são o reduto da desobediência. A irreverência e a laracha são as grandes formas de exprimir a opinião sem rodeios sobre os estado de coisas em Portugal. Neo-realista e surrealistas confrontam-se ideologicamente. Em 1953 os surrealistas portugueses, tendo à cabeça o poeta Mário Cesariny, publicam o manifesto A Afixação Proibida. Os então neo-realistas Manuel da Fonseca e Carlos de Oliveira publicam respectivamente O Fogo e as Cinzas e Uma abelha na chuva. 

«PODIA TER SIDO MUITA COISA SE NÃO FOSSE AQUILO QUE SOU»

Amália canta no Argentina (teatro de ópera) em Roma. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.
 














Amália Rodrigues no Lincoln Center, em Nova York, com o Maestro André Kostelanetz, 1966





 
Em 1950 organizam-se vários espectáculos de apoio ao programa económico para restaurar uma Europa em ruínas. É o célebre plano Marshall. Na cidade martirizada de Berlim, os primeiros espectáculos. Participam todos os países que aderiram a este plano americano. A escolha recai sobre cantores de música clássica, mas Portugal não tem cantores líricos de nomeada. Amália é a única artista portuguesa conhecida: «Como ouviram alguns discos meus preferiram escolher-me». Canta os poetas portugueses Pedro Homem de Mello e David Mourão Ferreira. A Irlanda, país onde a música popular tem fortes raízes, é também representada por cantores ligeiros.
Em Roma Amália quebra um tabu. Canta no Argentina, um teatro de Ópera. Neste espectáculo participa a cantora lírica  Maria Caniglia, o violinista Jacques Thibault e o tenor Fiorenzo Tasso, acompanhados por uma orquestra sinfónica. O contraste é grande. Amália é a única cantora ligeira. Treme como varas verdes. Está sozinha com a guitarra portuguesa de Raul Nery e a viola de Santos Moreira: «Três gatos pingados que não sabiam nada de música a tocarem ao pé de uma orquestra sinfónica, enorme!». Quando entra no palco tem uma tal cara de medo, que nas primeiras filas pessoas olham-na com ternura: «Acho que tive o público comigo, ainda antes de começar». O sucesso é grande. Sai do palco, começa a rir e a chorar ao mesmo tempo. «Tive o único chilique da minha vida. Era tudo no palco com leques, à minha roda, a dizerem. Perchè píangere? Un sucesso! Un trionfo! Perchè píangere? E eu ao mesmo tempo chorava, ria, ria. Foi um tal medo…porque os fadistas dantes tinham muito mais complexos de inferioridade do que agora. Eu é que tirei os complexos ao fado. Nessa noite, sem querer, consegui muito. Foi um espectáculo extraordinário para mim, porque as críticas foram formidáveis. À saída, toda a gente estava à minha espera, a gritar: Brava!Brava!Brava!»
Numa da sua estadas em Nova Iorque, Danny Kaye convida-a para entrar num espectáculo com ele na Broadway: «Quem sabe, se eu tivesse ido, correndo-me bem as coisas, como sempre me correram em toda a parte, talvez eu tivesse partido dali para uma coisa importante. Eu podia ter sido muita coisa se não fosse aquilo que sou. Mas nesta altura não era capaz de cantar ao lado de Kaye, embora tivéssemos ficado grandes amigos».
Em 1954 faz uma digressão pelo México. Uma jornalista famosa de Hollywood, Hedda Hopper quer que ela se vista de branco, que se decote e renuncie ao xaile preto. Quer que Amália ponha uma rosa vermelha na cabeça. Amália explica-lhe que a rosa no cabelo é para a Espanha e ela é de Portugal, de Lisboa.
O seu empresário americano, Blackstone leva-a aos estúdios de Hollywood. Assiste às filmagens de “Someone At Last”, em que Judy Garland e James Mason são os protagonistas. Acha tudo muito estranho porque uma das cenas é repetida dezassete vezes, enquanto em Portugal um actor nem sequer uma vez pode enganar-se, porque não há filme suficiente para repetir a cena. Conhece assim James Mason: «Uma portuguesa que ia comigo é que ficou a amarinhar pelas árvores por ter visto James Mason. Até pedi desculpa ao homem e disse-lhe que em Portugal não éramos todos assim» conta Amália ao seu biógrafo Victor Pavão dos Santos.
Neste período não fica nos Estados Unidos porque não quer. Em Nova Iorque canta pela primeira vez na televisão (na NBC), no programa do Eddie Fisher «patrocinado pela Coca-Cola, que tive que beber e não gostei nada». Grava um disco de fado e flamenco. Abrem-lhe uma conta no banco para ficar mais tempo e gravar dois álbuns, com canções de Cole Porter, Gershwin, Jerome Kern. Fica muito contente pelo convite, mas não aceita porque está farta da América: «Eu nunca trabalhei na minha vida e para fazer um álbum com canções americanas tinha de ficar ali a ensaiar, a trabalhar. Eu gosto de cantar sem estar a pensar que estou a cantar. Não sei cantar de outra maneira. E bastava-me a preocupação de estar a falar inglês para perder a espontaneidade».
« É uma temperamental. Uma meridional!»- clamam uns. «É a grande intérprete da alma ibérica!» - dizem outros. Quando regressa a Lisboa é novamente convidada a cantar na embaixada portuguesa em Espanha onde «me tornei “flamengueira”. Conheci as melhores gargantas de flamenco!». Canta e sente que o fado e o flamenco têm a mesma autenticidade: «De um e de outro modo, cada um tem a sua verdade». Anos mais tarde, quando grava o disco «Fado de Portugal e Flamenco de Espanha», dá corpo ao seu iberismo.

«TROVA DO VENTO QUE PASSA»
Amália Rodrigues com Manuel Alegre




Amália, Manuel Alegre, Pedro Homem de Melo, David Mourão Ferreira e Alain Oulmain... Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.
 




















Amália Rodrigues com David Mourão Ferreira e Alain Oulmain, 1964
























 
Por uns - compreendida , por outros - apupada, mas a ninguém indiferente. Decide cantar o fado-canção. Encontra uma nova postura de cantar o fado, mais desabrida. Canta com entusiasmo os fados de Frederico Valério, Raul Ferrão e de Frederico de Freitas «com uma estrutura musical mais complexa, com refrão e coplas, por oposição à simplicidade estrófica dos velhos fados castiços». (Rui V. Nery)
Amália dá ao fado um novo  fulgor. Canta o repertório tradicional de uma forma diferente «subordinando o ritmo regular da melodia ao sabor da dicção poética, com suspensões inesperadas e acrescenta ornamentos novos, que foi a buscar às cantigas da Beira Baixa», escreve o mesmo musicólogo. Ultrapassa todas as fronteiras e preconceitos culturais. Amália tem a arte de sincretizar o que é urbano e rural, o que é popular e erudito através de uma voz de timbre único, prenhe de emoção sensual e musical.
Os poetas Pedro Homem de Mello e David Mourão Ferreira passam a escrever para ela. Canta os grandes poetas da língua portuguesa, dos trovadores a Camões, de Bocage aos poetas contemporâneos guiada pela sua grande intuição. Conhece o compositor luso-francês Alain Oulmain: «Um dia estava num acampamento e levaram-me Alain Oulmain, que tinha uma música a pensar em mim, o Vagamundo. Fui ouvir e gostei. Seguiram-se outras e fui contra a maré das pessoas que estavam ao pé de mim, que achavam aquilo muito complicado. Os guitarristas de facto, tiveram de aprender aquelas harmonias novas que o Alain trazia, que não tinham nada a ver com o fado porque o fado é pobre em harmonia. O Alain nasceu no Dafundo, nasceu em Portugal, apesar de ser francês. Tem uma sensibilidade grande de artista, foi criado num certo ambiente. Depois, ouviu-me cantar, sentiu que a minha sensibilidade estava muito perto da sua. Dá-me a possibilidade de voar.»
Amália tem um humor marcadamente lisboeta, construído em Alcântara, bairro  predominantemente operário onde o humor corrosivo é cultivado quase como uma forma de vida. Brinca com ela própria, com o seu próprio talento. Sobre a sua primeira aparição na televisão portuguesa em 1958 conta ela ao seu biógrafo: «Andou sempre uma mosca à minha volta. Cantou melhor a mosca do que eu. Quando havia lá moscas, e acho que havia sempre, as pessoas disfarçavam. Eu, como havia a mosca, sacudi-a. E depois só se falava na mosca». Perante situações complicadas constrói a sua coragem na capacidade da resposta pronta. Quando alguém lhe fala sobre as condecorações e outras honrarias que recebera durante a ditadura, responde: «Por mim, não me levantava do meu cadeirão. Não passei pela vida, a vida é que passou por mim».
Na década de 60, razões económicas e razões políticas levam os portugueses a emigrarem em massa para os países ricos da Europa.  Em Angola rebenta a Guerra Colonial. Movimento estudantil contra a repressão salazarista. Muitos portugueses, opositores ao regime são obrigados ao exílio. Em Argel o poeta-exilado Manuel Alegre recebe uma carta do seu amigo Alain Oulmain pedindo-lhe autorização para Amália interpretar «Trova do vento que passa» poema que era já uma referência para a resistência anti-fascista portuguesa na voz de Adriano Correia de Oliveira. A nova versão surge no disco da Amália «Com que Voz» (1970)
Em 1962 aparece o primeiro disco com músicas de Alain Oulmain e que é muito bem aceite por um público de uma elite cultural. Para alguns não é fado. Os próprios guitarristas quando tocam as coisas de Oulmain, vêem-se à nora. José Nunes dizia sempre: «Vamos às óperas».
A sua grande sensibilidade artística e intuição faz com que o fado Povo que lavas no rio, um poema que Amália escolhe não sabe bem porquê, de Pedro Homem de Mello, tenha uma dimensão política. O mesmo se passa com um antigo fado do Armandinho que se torna num hino aos que se encontram presos em Peniche e que se passou a ser conhecido como o «fado de Peniche». O disco foi proibido. Para Amália quando «o cantei, aquilo era uma tristeza de amor, que é um sentimento muito mais bonito e muito mais dorido que uma ideia revolucionária. Não me passavam pela cabeça prisões.»
Em 1966 está novamente nos Estados Unidos. Canta em salas normalmente vedadas à participação de cantores de música ligeira como no Lincoln Center e no Hollywood Bowl. Recebe um telefonema de Lisboa a dizer que Alain Oulmain foi preso pela PIDE. Amália dá todo o seu apoio ao amigo e tudo faz para que seja liberto e posto na fronteira.
Em 1967 o Papa Paulo VI visita o santuário de Fátima, a irmã Lúcia e condecora o director da PIDE. Fotos, factos, fados…
Amália continua a cantar os poetas esquerda: Ary dos Santos,  Manuel Alegre, O’Neill, David Mourão-Ferreira. Em 1968 o ditador Salazar cai da cadeira de lona em que descansava. Incapacitado é substituído pelo professor universitário Marcelo Caetano. A PIDE encerra temporariamente o Instituto superior Técnico. Em 1969 eleições em que concorrem pela primeira vez os movimentos democráticos MDP/CDE e CEUD que representam as duas facções mais importantes dos opositores ao regime. Fraude eleitoral. Deputados da chamada Ala Liberal são eleitos para a nova Assembleia Nacional. Onda de greves em todo o país. Em 1969 Amália é condecorada por Marcelo Caetano na Exposição Mundial de Bruxelas. Início de uma grande digressão à antiga União Soviética. Mais uma vez a sua voz peculiar, deslumbra.
Amália nunca fica maravilhada com o que lhe acontece. É sempre igual a si mesma. Terá sempre uma atitude displicente em relação aos seus êxitos e ao seu talento. Nunca guardará nada relacionada com a sua carreira artística: «Passei a minha vida a surpreender-me com o que me aconteceu, mas nunca lutei, como nunca sofri para conseguir fazer alguma coisa, para o que se chama vencer, talvez não tenha gozado bem as coisas por que passei. Embora saiba que a única artista portuguesa conhecida no estrangeiro seja eu».
1971: Zeca Afonso grava para a editora Arnaldo Trindade o disco Cantigas de Maio que inclui Grândola, Vila Morena. Em Paris Amália visita Alain Oulmain e conhece pessoalmente Manuel Alegre que, convalescente de uma doença, encontra-se escondido em casa do seu amigo. Início de uma grande amizade e colaboração.  Manuel Alegre confessa que ficou um pouco atrapalhado. No exílio, em Argel, ouvia os seus discos  e «sentia um bocado de Portugal comigo, porque no fundo, ninguém como ela exprime o que defino por a nossa atlanticidade, essa forma melancólica e nostálgica que é a saudade.»
Quando se emociona, canta de modo tão intenso que chora. «Uma vez num barco, em Vila Franca, à noite cantei aquela música do Fado Cravo que as pessoas se ajoelharam aos meus pés. Ajoelharam-se porquê? Porque senti uma emoção muito grande. (…) Nem sei como chamar a isto. Talvez eu não seja criadora, mas quando canto estou a inventar. E, para inventar, preciso de música. O fado quando comecei era amarrado como se tivesse uma só divisão e a minha maneira de cantar deu-lhe mais duas casas. Porque nada dentro daquela divisão me deixava fugir. A minha voz queria fugir dali, mas batia na porta. Tive que cantar à minha maneira.»

«AI LUCIDEZ QUE ME DOI»
Amália Rodrigues com Mário Soares

Nos anos 60 o Turismo foi uma das industrias  mais agressivas em Portugal. Exportava a imagem de um país de brandos costumes (embora há anos em guerra) do Avril au Portugal - país do sol (embora em Abril águas mil), do Fado, o Futebol e Fátima. São estes os Fs que sustentam o Fascismo salazarento.
Amália é assim conotada com um dos Fs e, por isso, mal tratada por alguns militantes da esquerda mais radical (alguns deles emigrarão mais tarde para partidos de direita). Muitos desconhecem a sua generosidade e até a sua contribuição  para a Comissão Nacional de Socorro aos  Presos Políticos durante o fascismo, «da mesma forma apaixonada e talvez ingénua com a qual agradeceu aos donatários salazaristas que lhe proporcionaram, a ela, rapariga do povo, os palcos, os microfones» escreve o deputado comunista Rubens de Carvalho.
Amália volta a cantar Mãe Negra, embalando o filho branco do senhor…, que  cantara nos anos sessenta em Angola e Moçambique. Incluída na lista de canções malquistas pelos censores do regime de Salazar, esta canção faz parte do cancioneiro da resistência ao regime. Já durante a revolução democrática e nacional do 25 de Abril canta o Fado de Peniche. No Teatro Vasco Santana  participa com o actor, advogado e comunista Morais e Castro, em sessões de esclarecimento sobre o 25 de Abril sobre a situação dos artistas de espectáculo.
A democracia portuguesa acaba por lhe prestar as maiores e mais sinceras homenagens. Em 1980 é condecorada com o grau de oficial da Ordem do Infante D. Henrique pelo então presidente da República Mário Soares que a considera «uma mulher conservadora, crente e naturalmente apolítica mas que soube conviver bem com a Revolução dos Cravos». Ela própria lhe disse que a diferença entre «vocês e os de antigamente, é que vocês sentam-me à vossa mesa. Os outros recebiam-me muito bem, gostavam muito de mim e de me ouvir cantar, mas era diferente, só era recebida no fim, para cantar».
Sempre gostou de fazer versos: «coisas que sentia», reconhecendo que não é poeta. Lança o disco com poemas seus Gostava de Ser Quem Era. Em 1997 edita o Livro Versos, confirmando a sua veia poética: «Ai minha infância dorida/ Ai o meu bem que não foi/ Ai minha vida perdida/ Ai lucidez que me dói»  Os seus versos são ecos empolgantes da sua voz, única,  remanescente popular da poética eivada de lirismo e da atracção pela morte: «Vem morte que tanto tardas / Ai como dói / A solidão quase loucura». É homenageada pela Câmara Municipal de Lisboa. Lança um disco de inéditos Segredo. Vive com dificuldades económicas, o que a obriga a desfazer-se de algum do seu património imobiliário.
Morre a sua grande amiga a pintora Maluda 1999. Fica profundamente pesarosa. Já antes vira desaparecer o seu marido César Seabra, o seu compositor Alain Oulmain e o seu poeta David Mourão-Ferreira que  a considerava como «a voz da diáspora e voz do terroir (chão), voz da distância e da intimidade, com a amplitude das mais altas vagas e a tocante descrição de recolhidos santuários».

«QUANDO CANTO, ESCUTO-ME...»
Amália Rodrigues - um dos seus retratos inesquecíveis










Amália Rodrigues, a última viagem. Olhos vidrados de lágrimas das pessoas simples, do povo, com as vozes embargadas, acompanham o cortejo fúnebre
 
São Bento é um bairro antigo de Lisboa em que se misturam odores tradicionais com outros vindos de paragens mais distantes, de Cabo Verde. Do alto das escadarias, guardadas por dois leões, ergue-se um edifício de traços clássicos, o Parlamento. Seguindo rua acima, do lado esquerdo mora Amália numa casa pombalina de sorridentes e floridas balaustradas. Quando ela passa com aquele ar melancólico que a caracteriza, o seu sorriso contagiante ilumina todos. Amália gosta de cantar na rua: «Quando canto escuto-me, e quando me escuto acabo a chorar». O mercado, a padaria e o comércio tradicional, são pontos de encontro das gentes simples. Uma vizinha fala da sincera preocupação de Amália para com os mais necessitados: «chegou a atravessar problemas financeiros de tanto dar».
Agora na casa amarela de S. Bento mora o silêncio. Na varanda encontra-se ainda pendurada uma toalha branca, símbolo solidário com o povo de Timor. Em todas as janelas e varandas, à passagem do féretro, de S. Bento à  Estrela, toalhas brancas, estendidas.
O coração de Lisboa chora. Flores, lenços brancos acenam. Nas ruas, nos carros, nas lojas, por todo o lado o fado de Amália. Dor e saudade, o âmago  alfacinha, trespassam. Seis da tarde. Suave melancolia, Lisboa. Largo da Estrela, a grande Basílica prevalece. Centenas de pessoas, as escadarias ocupam. Tocam os sinos. O féretro da Amália chega. Emoção geral. Nunca a multidão à solta teve tanta grandeza. Homens, mulheres, crianças, imagens sobrepostas, redondas e volumosas, dissolvem. Caras lampejadas, cabeças reluzentes, cabelos de cor nem loira nem escura, na Basílica entram. Não se distingue o novo do velho, o bonito do feio. A idade e o gesto, afirmam. Tudo se neutraliza: tempo, pessoas, coisas. Na nave central, Amália. Tudo perde o seu relevo, tudo entra em nós…
 Uma mulher e um ramo de margaridas brancas, esperam. O adeus à «melhor embaixadora de Portugal no mundo». Uma outra pesarosa, sussurra: «É uma parte da nossa vida que está ali. Ela é a referência da nossa mocidade». Apesar do frio que se faz sentir ao fim da noite, há quem não arrede pé. Aguarda-se pacientemente a sua vez para chegar junto ao caixão. Choro miudinho de mulheres. Espuma dos dias, milhares de pessoas, adeus à «diva do fado». Fuga ao olhar atento da polícia: o último beijo, o último toque. Um jovem diz que não gosta de fado, «mas ouvi-la cantar arrepia-me». Amália descansa na paz do Senhor «mesmo que ele não exista, eu acredito nele».
Outono de 2000. Luminosidade morna das tardes de Lisboa. Jardim do Príncipe Real. O Grande Cedro exala aromas. Velhos reformados jogam às cartas. Velhas alcoviteiras, dormitam. Crianças brincam. Mulheres de pálpebras semicerradas, vigiam. Num ramo pendurado está um rádio tal qual pássaro feito. Ouve-se a voz de Amália: «Estranha forma de vida¯¯¯».

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Gérard Depardieu

A estrela de 62 anos foi notícia a 17 de Agosto por ter chocado os passageiros de um voo de Paris com destino a Dublin ao decidir urinar no corredor do aparelho, depois de lhe ter sido negado o acesso ao WC. Na altura, a imprensa francesa referiu que Depardieu estaria visivelmente alcoolizado.

Agora, o actor aparece num rápido vídeo cómico vestido de Obélix e surge sentado num avião ao lado da personagem de Astérix. A ler um jornal, Obélix aparece inquieto e chega a exclamar: “Não posso esperar, não posso esperar!”

Porém, em vez de querer ir ao WC, a personagem está ansiosa por comer um javali. Logo a seguir, um passageiro indignado apelida-o de “asqueroso”.

O novo filme de ‘Astérix e Obélix’ apenas chega aos cinemas em Outubro de 2012.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Recomendado por uma "velha" amizade (que bom!!)

A Partilha
Certo dia uma moça estava à espera de seu vôo na sala de embarque de um aeroporto.
Como ela deveria esperar por muitas horas resolveu comprar um livro para matar o tempo.
Também comprou um pacote de biscoitos.
Então ela achou uma poltrona numa parte reservada do aeroporto para que pudesse descansar e ler em paz.
Ao lado dela se sentou um homem.
Quando ela pegou o primeiro biscoito, o homem também pegou um.
Ela se sentiu indignada, mas não disse nada.
Ela pensou para si:
Mas que ´cara de pau´.
Se eu estivesse mais disposta, lhe daria um soco no olho para que ele nunca mais esquecesse.
A cada biscoito que ela pegava, o homem também pegava um.
Aquilo à deixava tão indignada que ela não conseguia reagir.
Restava apenas um biscoito e ela pensou: O que será que o ´abusado´ vai fazer agora?
Então o homem dividiu o biscoito ao meio, deixando a outra metade para ela.
Aquilo à deixou irada e bufando de raiva.
Ela pegou o seu livro e as suas coisas e dirigiu-se ao embarque.
Quando sentou confortavelmente em seu assento, para surpresa dela o seu pacote de biscoito estava ainda intacto, dentro de sua bolsa.
Ela sentiu muita vergonha, pois quem estava errada era ela, e já não havia mais tempo para pedir desculpas.
O homem dividiu os seus biscoitos sem se sentir indignado, enquanto que ela tinha ficado muito transtornada.
(Autor desconhecido)
Quantas vezes em nossa vida nós é que estamos comendo os biscoitos dos outros, e não temos a consciência disto ???!!!.
Pense com clareza.
Há quem proceda de forma muito diferente da que você gostaria que fosse.
Isso tira a sua calma e dá-lhe a impressão de que ninguém gosta de você.
Mas raciocine claramente.
Não será um desejo de receber, de satisfazer-se, de preencher a si próprio o motivo desse estado de espírito?
Transforme-se.
Busque mais dar do que receber.
Só podemos transformar o mundo à nossa volta mudando antes a nós mesmos.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Gonçalo Raimundo (Treinador Nível 4 PRO UEFA!!!)

Gonçalo Raimundo em entrevista

por Gonçalo Ferreira em 29 de Julho de 2010
 ” Levo o clube no coração “

Não há memória de um treinador durar tanto tempo ao serviço do Ginásio de Alcobaça. Cinco anos depois, Gonçalo Raimundo foi dispensado do cargo, mas o jovem técnico não guarda rancor aos dirigentes e prefere destacar o trabalho desenvolvido no clube, sempre ao lado do seu adjunto Horácio.
Região de Cister – Quebrou um recorde de longevidade no Ginásio. O que sentiu no dia em que foi dispensado?
Gonçalo Raimundo – Tranquilo, como sempre me senti. Sempre dei o máximo pelo clube, sabia que não iria ser eterno, nem me iriam fazer uma estátua, mas estava consciente de que tinha cumprido o meu dever. Se calhar, até fiz mais do que me foi pedido.
Região de Cister – A derrota na final da Taça pode ter precipitado a saída?
Gonçalo Raimundo – Penso que não, porque pelo que me apercebi esse processo já estava tratado. Não foi o ganhar ou perder a Taça que levou a isto. A única justificação que me deram foi que a minha imagem estava desgastada, mas não sei perante quem.
Região de Cister – É uma justificação que o convence?
Gonçalo Raimundo – Nada justifica esta decisão. Os números falam por si. Consegui manter o Ginásio duas épocas consecutivas na 3ª Divisão, após duas décadas que isso não aconteceu, tivemos uma descida dramática, na última jornada, e depois duas épocas de bom nível na Honra. De resto, a Direcção transmitiu-me que cumpri o que me foi pedido, mediante as condições que tinhamos. Levo o Ginásio no coração, porque é o meu clube de referência. Muitas vezes as pessoas ligam mais aos últimos cinco anos, em que fui treinador principal, mas recordo que fui campeão distrital da 1ª Divisão de Juniores, subi a equipa de futsal masculino á 1ª Divisão Distrital, mantive a equipa de futsal feminino na Honra, fui a fases finais em sub-13. Não é so o trabalho nos seniores que me faz levar o Ginásio no coração.  São muitos dias, muitas horas de dedicação. Da minha parte e do Horácio, que esteve sempre comigo. Tenho de agradecer, obviamente ao Armando Bragança , que foi quem apostou em mim, quando eu era desconhecido.
Região de Cister – O lançamento de tantos jovens e a constante renovação da equipa sénior também foi uma imagem de marca. Satisfeito com este processo?
Gonçalo Raimundo – Ao longo destes cinco anos, lançámos quase trinta jovens na equipa principal, o que dá uma média de seis jogadores por ano. Obviamente que nem todos os jogadores singraram, mas neste período conseguimos baixar nos últimos anos a média de idades da equipa, lançando esses jovens como valores seguiros não só para o Ginásio, mas sobretudo para o futebol da região.
Joaquim Paulo – Região de Cister

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Einstein Bio

Albert Einstein: uma biografia muito breve

1
“Tenho pouca paciência para os cientistas que pegam numa peça de
madeira, procuram a parte mais fina e furam um grande
número de buracos onde os furos são mais fáceis.”
Albert Einstein nasceu a 14 de Março de 1879, em Ulm na Alemanha,
de uma família judia da classe média. Embora tenha começado a falar
só aos três anos, não é verdade que tenha sido um fraco estudante.
Um traço evidente do seu carácter, que mais tarde se manifestou de
forma proeminente no derradeiro trabalho científico, que o havia de
ocupar durante largos anos, era a sua obstinação. Enquanto
estudante, só se aplicava quando o assunto lhe interessava
intensamente. A ciência foi uma preocupação na sua vida desde
muito cedo. Com apenas um ano a família deslocou-se para Munich,
onde o pai Hermann e o tio Jacob iniciaram um novo negócio. Na
fábrica do seu pai, o jovem Einstein maravilhava-se com a descoberta
dos dínamos e de outras máquinas eléctricas. Dois outros
acontecimentos parecem ter desempenhado um papel preponderante
no acordar para a ciência do jovem Einstein. Aos cinco anos ficou
profundamente impressionado quando o seu pai lhe mostrou uma
bússola. Aos onze anos descobriu o que mais tarde designou o “livro
sagrado de geometria”. Os livros de divulgação científica mostraramlhe
que a Bíblia não podia ser interpretada literalmente, e o fervor
religioso da juventude esmoreceu — fervor que desenvolveu apesar
dos seus pais não praticarem a religião judaica — dando lugar a um
persistente entusiasmo pela ciência. Na escola secundária, o
“Gymnasium”, teve muito boas notas em física e matemática, mas
era um aluno vulgar nas disciplinas que não lhe despertavam um
particular interesse, como o francês e o alemão.
Em 1894 o negócio do pai em Munich soçobrou, e a família deslocase
para Itália, deixando Einstein para trás a completar o ensino
secundário. Einstein, porém, que tolerava com dificuldade a rígida
disciplina do Gymnasium, em breve abandona a escola e junta-se à
família em Milão. Desta forma evitou ser incorporado nas forças
armadas alemães. Em 1895 tenta a admissão ao Instituto Politécnico
2
Federal em Zurique (E.T.H.), Suiça, dois anos antes da idade normal
mas fracassa. Frequenta então a Escola Cantonal em Aarau (cantão
de Aargau), sendo hospedado na casa de um dos seus professores,
Jost Winteler, e tendo aí vivido um dos anos mais felizes. Finalmente
é admitido no E.T.H. em 1896. Aí encontra aquela que virá a ser a
sua primeira mulher, Mileva Maric (1875-1948). Durante o curso, em
física e matemática, Einstein falta muitas vezes às aulas para
trabalhar no laboratório ou para estudar por outros livros a física
mais recente da altura, ficando a depender dos apontamentos tirados
pelo seu colega e amigo Marcel Grossmann (1878-1936) para se
preparar para os exames. Einstein queixa-se várias vezes dos
programas de algumas das disciplinas de física, que na sua opinião
eram pouco actuais. Este comportamento comprometeu a sua relação
com alguns dos seus professores e prejudicou-o quando chegou o
momento de procurar uma posição académica, após a graduação em
1900. Em 1902, consegue finalmente uma colocação como
examinador de 3ª classe na Repartição das Patentes de Berna. Tinha
adquirido a nacionalidade suiça no ano anterior. Casa com Mileva em
1903, após fortes objecções dos seus pais. Antes do casamento,
tiveram uma filha, Lieserl, que aparentemente nunca chega a viver
com o casal. Suspeita-se que tenha sido dada para adopção, mas
dela não há qualquer traço além do registo de nascimento e de uma
carta de Albert para Mileva. Mileva e Albert tiveram mais dois filhos:
Hans Albert (1904-1973) e Eduard (1910-1965).
Depois de ter publicado alguns artigos sobre mecânica estatística
numa das revistas científicas com maior prestígio na época, o
Annalen der Physik, o jovem oficial das patentes submete quatro
artigos cruciais para publicação, na mesma revista, em 1905: o
primeiro propondo a hipótese dos quanta de luz, o segundo sobre o
movimento browniano cujas leis contribuíram para o reconhecimento
da realidade física dos átomos, o terceiro sobre a electrodinâmica dos
corpos em movimento que introduz a teoria da relatividade restrita e
o último sobre uma consequência importante desta teoria, a inércia
da energia ou E=mc2, talvez a equação mais famosa da história da
física. A abordagem de Einstein em todos estes artigos tinha algo em
comum: como ele explicou mais tarde, os seus trabalhos inseriam-se
nas chamadas “teorias de princípio”. Partia de generalizações
apoiadas numa grande profusão de evidências experimentais, mesmo
quando tais generalizações pareciam ser contraditórias. Com uma
lógica irresistível, deduzia então as consequências dessas
generalizações, pondo em destaque nesse processo várias noções
que identificava como preconceitos a eliminar (como foi o caso do
conceito de simultaneidade). Prosseguindo a mesma via, Einstein
estabelece em 1909 que qualquer teoria satisfatória da luz devia
combinar aspectos da teoria ondulatória e da teoria corpuscular. Este
foi o primeiro enunciado do dualismo onda-corpúsculo.
3
Einstein apresenta este resultado na sua primeira lição convidada
como membro da comunidade académica. Pouco antes, em 1909,
tinha-se tornado professor extraordinário de física teórica na
Universidade de Zurique. Em 1911 Einstein continua a via ascendente
na carreira académica, ao aceitar a sua nomeação como director do
Instituto de Física Teórica na Universidade alemã de Praga. Um ano
mais tarde regressa a Zurique, desta vez como professor catedrático
na sua alma mater (ETH). Mas novamente, não fica por muito tempo
pois no ano seguinte volta a mudar de Universidade, na sequência do
insistente e irrecusável convite de Max Planck e Walther Nernst,
deslocando-se desta feita para a Universidade de Berlim no princípio
de 1914, onde permaneceu até 1933, quando os nazis sobem ao
poder e o forçam a abandonar a Alemanha para sempre. O convite
para Berlim, é feito logo a seguir a ter sido eleito membro da
Academia Prussiana das Ciências em Novembro de 1913. A ida para
Berlim foi a última gota de água na já muito deteriorada relação com
Mileva Maric. Mileva e os dois filhos do casal regressam a Zurique
pouco depois, e Einstein reinicia uma relação que tinha começado em
1912 com a sua prima Elsa Einstein-Löwenthal (1876-1936), com
quem celebra um casamento de conveniência em 1919, pouco depois
de se ter divorciado de Mileva.
Embora alguns cientistas tenham reconhecido a importância do
trabalho de Einstein de 1905 sobre o princípio da relatividade, como
foi o caso de Max Planck, Max von Laue e outros, o reconhecimento
da comunidade científica incidiu particularmente sobre as suas
contribuições sobre a teoria quântica da luz. É certo que estas teorias
também tiveram de enfrentar algum cepticismo e até forte oposição,
da parte de muitos físicos, até à descoberta do efeito de Compton em
1923. Mesmo após a verificação por Robert A. Millikan em 1915 da
fórmula do efeito fotoeléctrico muitos continuaram a duvidar da
hipótese do quantum de luz. Quando em 1922 Einstein recebeu o
prémio Nobel da Física referente a 1921, foi pela fórmula e não pela
hipótese da qual a fórmula é derivada: "pelos seus serviços à física
teórica e em particular pela sua descoberta da lei do efeito fotoeléctrico”,
segundo os termos do relatório da atribuição do Prémio
Nobel em 1921.
Dos admiráveis trabalhos de Einstein, produzidos no ano miraculoso
de 1905, o artigo “Sobre a Electrodinâmica dos Corpos em
Movimento”, que introduz a teoria da relatividade restrita, é muitos
vezes mencionado como o mais famoso; mas é o artigo “Sobre um
Ponto de Vista Heurístico respeitante à Produção e Transformação da
Luz”, publicado a 9 de Junho desse ano, que o próprio Einstein
considera “muito revolucionário”, legitimando de certo modo a
decisão da Academia Sueca. O trabalho de Einstein sobre os calores
específicos dos sólidos a baixas temperaturas foi muito mais bem
recebido, especialmente por Walther Nernst o qual escolheu a teoria
4
quântica emergente como o tópico do Primeiro Congresso Solvay em
1911. Nesse encontro Einstein emerge como a figura central nesse
novo domínio de investigação.
Entretanto, Einstein tinha também dado os primeiros passos na
tentativa de generalização da relatividade restrita e simultaneamente
na criação de uma nova teoria da gravitação, a teoria geral da
relatividade, como ele a chamou. Se a relatividade restrita pode ser
considerada um trabalho com contribuições de vários cientistas, a
relatividade geral foi essencialmente o resultado do trabalho de um
só: Albert Einstein. Em 1907, quando ainda trabalhava na Repartição
das Patentes de Berna, Einstein teve “o pensamento mais feliz” da
sua vida, como ele o designou mais tarde. A igualdade entre a massa
inercial e a massa gravitacional só poderia ser uma indicação de uma
conexão íntima entre a inércia e a gravidade. A esta conexão entre
movimento acelerado e gravidade, Einstein chamou “princípio da
equivalência”. Com base neste novo dado acreditou que seria capaz
de construir uma teoria que substituiria a teoria da gravidade de
Newton, o que só veio a acontecer no final de Novembro de 1915,
depois de um mês de intenso trabalho na massacrada cidade de
Berlim, onde a maioria dos físicos faziam então parte do esforço de
guerra. Quando foram anunciadas em Londres, em Novembro de
1919, que as medidas do encurvamento dos raios luminosos rasando
o Sol durante um eclipse solar confirmavam as previsões da teoria da
relatividade geral, Einstein tornou-se de um dia para o outro, aos
olhos da opinião pública, no maior e mais famoso cientista de
sempre, com a popularidade de uma estrela do cinema, cujas
opiniões científicas, políticas ou morais eram escutadas com respeito
e admiração. E Einstein, que até então tinha tido um envolvimento
político relativamente discreto, passou a usar a sua celebridade nos
anos que se seguiram na defesa de várias causas que lhe eram caras,
como o pacifismo, o Sionismo e o desarmamento.
Mas em contrapartida a sua fama transformou-o num alvo natural
das forças anti-semíticas na sociedade alemã dos anos vinte. As suas
teorias foram apelidadas de “física judaica” e houve rumores que o
seu nome figurava em listas de pessoas a eliminar pelos ultra radicais
de direita. Contudo, em nome da lealdade que sentia por Planck e por
outros físicos da comunidade berlinense, Einstein permaneceu em
Berlim até ao limite do razoável bom senso. Aliás, apesar do seu
pacifismo e internacionalismo que tanto o opunham ao militarismo
alemão, o cidadão suiço Einstein manifestou grande solidariedade
pelo povo alemão no pós guerra em face das condições impostas pelo
tratado de Versailles. Einstein usou a sua posição e influência para
promover o reencontro da Alemanha com a comunidade científica
internacional depois da I Guerra Mundial. Mas quando os nazis
chegam ao poder em 1933, Einstein é forçado a abandonar a
Alemanha. Mais tarde aceitaria um lugar permanente no novo
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Instituto de Estudos Avançados em Princeton, nos Estados Unidos.
Em 1940 torna-se cidadão americano mas sem perder a cidadania
suiça de que muito se orgulhava.
Voltando à teoria da relatividade, ainda não tinha passado um ano
após a a construção da sua teoria geral e já Einstein estava a tentar
modificá-la pois percebeu que, tal como estava, a teoria continha
vestígios de espaço absoluto e movimento absoluto, duas noções que
Einstein julgava ter banido completamente da física. A dificuldade
reside no facto da teoria exigir condições fronteira. Em 1917, no
decurso de uma longa correspondência com o astrónomo holandês
Willem de Sitter, Einstein pensou ter resolvido o problema com a
introdução de um modelo estático, espacialmente fechado do
universo, evitando assim a necessidade de condições fronteira. Para
construir um modelo estático Einstein introduziu a famosa “constante
cosmológica”, responsável por uma “força” anti-gravítica capaz de
equilibrar a atracção da matéria no universo. Com esta nova
formulação, Einstein convenceu-se que a sua teoria respeitava o que
ele chamava o “princípio de Mach”: a estrutura geométrica do
espaço-tempo era completamente determinada pelo conteúdo
material do universo. Mas em breve De Sitter mostrar-lhe-ia que isso
não era verdade.
Daí em diante Einstein perderia o seu entusiasmo pelo dito princípio,
posição que seria ainda reforçada com a descoberta da expansão do
Universo, primeiro com os trabalhos teóricos fundamentais de
Friedmann (1922, 1924) e Lemaître (1927) e depois com as
observações de E. Hubble (1929) . Mas foi Einstein que lançou as
bases da cosmologia relativista. Nesses anos, em que se assistiu ao
desenvolvimento da relatividade geral, Einstein ainda haveria de
contribuir com trabalho pioneiro sobre ondas gravitacionais, lentes
gravitacionais e com a discussão das singularidades do espaçotempo.
Por volta de 1920 Einstein volta-se para uma questão ainda mais
ambiciosa: a construção de uma teoria clássica de campo, seguindo o
modelo da relatividade geral, mas capaz de unificar o tecido do
espaço-tempo (responsável pelos efeitos da gravidade) e o campo
electromagnético de Maxwell-Lorentz. Nessa tentativa, em vez de
reduzir a estrutura do espaço-tempo à matéria, Einstein esperava
mostrar como a matéria poderia emergir deste campo unificado. Esta
é a tarefa que o absorverá quase em absoluto até ao fim da sua vida
em 1955. Especialmente nos seus últimos anos, a abordagem
seguida por Einstein neste gigantesco esforço de unificação é
sensivelmente diferente daquela que seguiu nos primeiros tempos.
Em lugar de construir com base em dados empíricos seguros, passa a
depender cada vez mais da pura especulação matemática.
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Einstein esperava que uma teoria unificada pudesse resolver todos os
enigmas da teoria quântica. Antes do advento da mecânica quântica
em meados dos anos vinte, Einstein deu pelo menos duas
contribuições fundamentais à teoria quântica: a sua teoria da
radiação de 1917, que desempenhou um papel importante na génese
da mecânica quântica e na qual previa que a luz ao passar através de
uma substância podia estimular a emissão de mais luz, um efeito que
está na base da explicação do laser moderno, e o seu trabalho de
1925 sobre a estatística de Bose-Einstein. Daí em diante o papel de
Einstein foi cada vez mais o de um crítico da interpretação de
Copenhague da mecânica quântica. A sua contribuição mais famosa
para a discussão dos fundamentos da mecânica quântica é o seu
artigo de 1935, assinado com Boris Podolsky e Nathan Rosen,
conhecido por “EPR paper”.
É voz corrente na comunidade científica que Einstein por essa altura
teria perdido o contacto com a investigação activa da física da época
e teria paulatinamente deslocado a sua atenção para uma audiência
cada vez mais dominada por matemáticos. Para comprovar esta ideia
é habitual referir que Einstein não deu nenhuma contribuição para os
desenvolvimentos excitantes da física nuclear, que tiveram lugar nos
anos 30. Note-se que por essa altura os seus esforços se
concentravam na unificação da gravidade com o electromagnetismo e
nunca houve da parte de Einstein ou dos seus colaboradores qualquer
tentativa de incluir as forças nucleares nessas teorias unificadas, que
na época se afirmavam já como um novo tipo de interacções. Claro
que Einstein nunca poderia, por esta razão, ter desempenhado um
papel significativo no desenvolvimento das armas nucleares, apesar
da célebre carta escrita em 1939 ao Presidente Franklin D. Roosevelt
avisando-o da eminência de uma bomba atómica alemã. É certo que
os preparativos para a bomba atómica americana só começaram a
sério depois do ataque a Pearl Harbor, mais de dois anos mais tarde.
O episódio vale contudo para salientar a importância que Einstein
tinha entretanto adquirido na comunidade científica e na sociedade
em geral.
Em 1948 foi-lhe diagnosticado um aneurisma da aorta na zona
abdominal. Na realidade, Einstein queixava-se de problemas
abdominais desde o período de grande intensidade de trabalho
enquanto completava a teoria geral da relatividade e nos anos
subsequentes. Em Abril de 1955 deu-se uma ruptura do aneurisma e
Einstein morreu. O seu corpo foi cremado mas só depois de o cérebro
e os olhos tirem sido retirados durante uma autópsia não autorizada.
No próprio dia da sua morte Einstein pediu à sua secretária, Helen
Dukas, o seu caderno de notas com o projecto inacabado de mais
uma teoria unificada da gravitação e do electromagnetismo.